16 agosto 2015

{Resenha em Dupla} O Parque dos Dinossauros - Michael Crichton




"A história da evolução nos diz que a vida supera todas as barreiras. A vida se espalha. Ocupa novos territórios. De modo doloroso, por vezes perigoso. Mas a vida dá um jeito."



SOBRE O QUE É

Resumo oficial: "John Hammond está prestes a ver concretizado o sonho de sua vida: inaugurar um sofisticado (e lucrativo) parque turístico em que o ambiente foi reconstruído para se parecer com a Terra de milhões de anos atrás e cujos animais são... dinossauros! Confinados em Islã Nublar, uma pequena ilha da Costa Rica, os quase trezentos espécimes produzidos com a mais revolucionária tecnologia da engenharia genética parecem sob o controle absoluto dos supercomputadores e dos cérebros geniais que os criaram. Contudo, um detalhe foi esquecido. Desaparecidos da face do planeta antes que o homem viesse a habitá-lo, os dinossauros podem apresentar reações inesperadas aos seres humanos. Ante a iminência de uma catástrofe de dimensões notáveis entra em cena o paleontólogo Alan Grant, a quem sobra a colossal tarefa de enfrentar monstros enlouquecidos."

Elza: Na verdade é sobre um velho maluco que enche uma ilha de dinossauros comedores de gente e ainda leva os netos para brincarem no meio. E não esqueçamos os cientistas. E do nerd vilão ganancioso que dá uma mãozinha para garantir o jantar dos dinos.


DIFERENÇAS QUANTO AO FILME

Anita: Faz provavelmente décadas que assisti, por isso não posso comparar com detalhes. Contudo, tenho certeza de que há diferenças demais para enumerar.

Elza: Tem diferenças nos personagens, no número de dinossauros, no final… Também não tem a coisa do barco infestada de raptores no filme. O paleontólogo, Alan Grant, e a paleobotânica, Ellie Sattler, estão no filme, mas inverteram as idades das crianças. O nerd também está nas duas versões, assim como o velho – embora no filme ele seja menos louco. Como era de se esperar, há mais personagens no livro. O filme preferiu economizar e desaparecer com alguns. Pelo menos o matemático está nos dois. Ian Malcolm tem meu amor eterno.

Anita: O início do livro não funcionaria tão bem em uma versão cinematográfica. Começa com a apresentação de casos isolados de ataques por “lagartos” na Costa Rica, animais usualmente menos nocivos. Nós leitores, claro, sabemos que é mais do que isso. O suspense, porém, de em que situação isso será descoberto, acabou me fazendo virar páginas e páginas na espera. Outro ponto diferente são os personagens principais. O mais óbvio seriam as crianças. No livro, encontramos um garoto mais velho — de apenas onze anos… apesar de muitas vezes parecer ser o mesmo que vemos em Jurassic World — e uma irmãzinha mais nova e menos interessada em toda a coisa de uma ilha com dinossauros. A mulher, eu não lembro exatamente o que ela era no filme, mas sua participação no livro foi bem reduzida, como mera assistente do nosso paleontólogo protagonista.

Elza: Ei! A mulher serviu de isca de raptores! E pulou do telhado numa piscina! Fez mais do que no filme, onde ela só pulou no paleontólogo.

Anita: Mas aposto que se fosse a mesma personagem no filme, ela nem estaria entre os principais. Creio haverem feito a mudança para, primeiro, criarem uma tensão romântica — no livro, isso é veementemente negado, não esperem nada nesse sentido.

Elza: No filme nem tem tensão romântica. Eles estão juntos e pronto. No livro ela está noiva de outro cara. Um médico que não curte essa de ficar correndo atrás de lagartos gigantes. Pensando bem, ela dava mais certo com o paleontólogo. Eles estavam se divertindo tanto enfiando as mãos nos excrementos de dinossauro...

Anita: Em suma, leiam o livro mesmo se tiverem assistido ao filme. A história é tão diferente que será como assistir a outra sequência, uma muito melhor!

Elza: Tem mais dinossauros - em quantidade de espécies e em número - e mais cenas deles tentando comer humanos indefesos e desesperados. Se isso não for uma razão para ler, não sei o que seria. Alguns dos animais são até mesmo inteligentes. A gente totalmente tinha que estar falando nos raptors. Por que não estamos falando nos raptors??
— Não, não vejo nada...
— Eu estou vendo — Alexis gritou. — Perto da traseira. Olhe atrás!
— Como ela consegue ver alguma coisa com esta luz? — Malcolm perguntou.
— As crianças enxergam bem — Grant disse. — Possuem uma acuidade visual que deixamos para trás.
Focalizou os binóculos na popa, movendo-os devagar, e de repente viu os animais. Brincavam entre as estruturas da popa. Conseguiu vê-los apenas de relance, mas mesmo com tão pouca luz percebeu que se tratava de animais em pé sobre as patas traseiras, com cerca de sessenta centímetros de altura, parados balançando as caudas grossas.
— Agora conseguiram ver? — Alexis perguntou.
— Sim, já vi — Grant confirmou.
— O que são?
— São raptores. Pelo menos dois. Talvez mais. Jovens.
— Meu Deus — Ed Regis exclamou. — O barco vai para o continente.

MELHORES PARTES

Anita: Os melhores dinossauros são os velociraptors, sim ou sim? 

Elza: Claro que sim! Eles são inteligentes. Como cachorros, só que com dentes maiores. E mais feios. Eu não ia querer brincar de pegar a bola com um deles. 

Anita: Uma de minhas cenas favoritas é quando, mais para o início, o grupo descobre que tem um monte de velociraptors fugindo de navio para o continente. A forma como descobrem; toda a cena foi tão bem narrada que eu fiquei com medo daquilo, rs. É quase engraçado que os principais da franquia sejam os tiranossauros, levando em conta que os raptors imperam no livro como os maiores vilões da história — excluindo os vilões humanos. 

Elza: Porque os T-Rex são maiores e mais feios. E eles levam tempo perseguindo e engolindo, enquanto os raptors só arrancam seu intestino de uma vez e acaba tudo. 

Anita: Algo mais que gostei, e talvez devesse estar nas diferenças, mas foi realmente um de meus aspectos favoritos, foi o clima do livro. No filme, o clima é de um parque superdivertido, que gostaríamos muito de visitar. O livro tece uma história com tudo para dar errado; aliás, ele é entrecortado com trechos da teoria do matemático superstar Ian Malcolm sobre como tudo dará errado, seguindo a hoje em dia famosa teoria do caos. 

Elza: E não vamos esquecer a névoa. Fiquei imaginando uma ilha perpetuamente fria e escura com bichos assustadores de cinco metros aparecendo quando você menos espera. A não ser que ouvisse o rugido faminto antes... Tenho que ficar repetindo o quanto essa ideia de gente fugindo de dinossauros em uma ilha é genial? Nem vou mencionar a superpesquisa do autor. Os dinossauros espalhando o terror já fizeram o trabalho para mim! 

Anita: Eu adorava as descrições do Crichton sobre o cheiro dos dinossauros carnívoros. Ele fez questão de logo no "city tour" apresentar essa grande diferença. Por isso não precisávamos de musiquinha de suspense quando nossos heróis estavam prestes a ser atacados. Eles sabiam pelo cheiro de carniça que deviam se esconder – correr não adiantaria muito... 

Elza: E mesmo assim, aquela mulher maluca enfiava as mãos nos excrementos de dinossauro. Cientista não pode ter nariz mesmo... A propósito, devia ser por isso que os dinossauros não se guiavam pelo cheiro. Seria difícil sentir qualquer coisa quando ele tinha que conviver com o próprio perfume. 

Anita: E o personagem humano favorito é o Ian Malcolm, sim ou sim? 

Elza: Claro que sim. Ele é do contra da história. Ninguém gosta das maria-vai-com-as-outras. Além disso, ninguém precisa ser um gênio para saber que uma ilha cheia de dinossauros carnívoros sobre os quais não se sabe muita coisa é uma PÉSSIMA IDÉIA. Sem falar na parte em que eles saíram misturando DNA de outros animais na base do “vamos ver no que vai dar”. 

Anita: Meu último ponto a destacar neste tópico é, e repetindo o elogio da Elza à pesquisa do autor, o tema atual. Evidentemente que a lição moral sobre o humano querer brincar de Deus sempre estará disponível na literatura de ficção científica. O que eu acho mais elogiável é que esse livro poderia ter sido escrito hoje. Imagino que os personagens mudariam, teríamos mais mulheres ou alguma fazendo algo importante... e aposto que haveria algum romance, nem que envolvesse o velhinho maluco dono da ilha. Mas o núcleo do livro, todas as afirmações científicas, não mudaria. Não é bizarro como um cara escreve algo sobre a ciência de vinte anos atrás e continua atual? 

Elza: Porque os seres humanos continuam irresponsáveis. E nunca vão mudar. Eu sou a única pessoa nesse mundo que não nota quando os autores não preenchem as cotas de mulheres, crianças, nerds, etc? Sempre que alguém menciona, fico abobalhadamente olhando para o nada e falando "ah, é, né?" Esqueci de dizer algo sobre o Ian: ele é o maior cretino. Leiam esse livro por causa dos dinossauros comedores de gente e também por causa dele. 

Anita: Ele preencheu! Com uma aluna do principal e uma irmãzinha do garoto, a qual atrapalhava tudo. A "cota" foi preenchida sem personagens de verdade. 

Elza: Mas eu curti as crianças nesse livro. Elas foram bem aproveitadas. Tinha sim a garota pentelha para atrasar todo mundo e dar uma vantagem digna aos dinossauros, além do garoto que acaba salvando a pátria, mas não vamos esquecer aquilo que acontece ao velho, Se não fossem as crianças, o que ele teria criado depois? Um Godzilla?
Abaixando-se mais, ela tateou o ferimento com a ponta do dedo. Se uma retroescavadeira o atingira, haveria terra entranhada na carne. Mas não encontrou nenhuma sujeira, apenas uma espécie de espuma, pegajosa. E o ferimento emitia um odor estranho, como um cheiro de morte e podridão. Ela nunca havia sentido um cheiro assim antes.

PONTOS NEGATIVOS

Elza: O T-Rex não comeu a menina pentelha. Só eu não aguentava mais ela berrando que estava com fome? Eu também estou com fome e não estou fazendo terrorismo. Tudo bem que aqui não é exatamente uma ilha cheia de dinossauros, mas, segundo a teoria do caos do Malcolm, até poderia ser. 

Anita: Já que você tocou nisso, percebi que o autor tinha um dedo bem pouco aleatório na escolha de quem morria. Exceto por uma vítima e uns coadjuvantes, ele fazia justiça divina com os dinossauros. Não que isso seja muito negativo, mas... seria bom umas mortes menos desejadas para emocionar um pouco. No final, eu estava já até rindo quando alguém morria. Isso diminuiu um pouco o medo que sentíamos dos dinossauros; eu me sentia jogando tudo numa fogueira com eles. Mas isso foi engraçado. Sem dúvidas. 

Elza: Mas teve você sabe quem! E tudo bem que o autor deu um jeito na situação, mas ainda assim... 

Anita: Sim, esse é um defeito para a continuação. Ou um ponto positivo. Vai ver um mosquito sugou o sangue dessa pessoa aí e um cientista bonzinho o reproduziu em laboratório. 

Elza: Se recriaram os dinossauros, clonar um humano deve ter sido mamão com açúcar. 

Anita: E eu estou catando problema. Este livro só tem o defeito de terminar e não receber uma continuação no mesmo nível. Precisávamos de dinossauros dominando o mundo! 

Elza: Ah, é, eu tenho um probleminha com a forma como os dinossauros foram tratados. Cadê Ibama, Greenpeace, Luisa Mell? 

Anita: Ainda catando defeito, acabo de lembrar que havia sim umas explicações científicas um pouco furadas. Havia detalhes que nosso paleontólogo/herói adivinhava com uma facilidade um pouco espantosa. Não deve se esperar do Crichton algo sem problemas, mas é realmente ser bastante exigente dizer isto. E, de fato, a questão da crueldade com os dinossauros era um ponto que tenho certeza de que ficaria amenizado fosse escrito nos dias de hoje. Ou esse livro acabaria sendo a grande polêmica que não foi no momento em que foi lançado. 

Elza: Sim, sim... Esses autores não entendem que tudo bem matar humanos, MAS NÃO TOQUEM NO TIRANOSSAURO!


ULTIMOS COMENTÁRIOS

Anita: Não costumo ler livros de filmes que já assisti, não costumo ler livros de ação e muito menos ficção científica. O Crichton é um autor que nunca leio por esses três motivos, e o único que eu já conhecia dele era O Enigma de Andrômeda. Jurassic Park valeu mais que a pena eu haver aberto exceção. 

Elza: Foi o primeiro livro do Crichton que li e estou convencida que não há nada mais divertido que dinossauros perseguindo humanos desavisados... desde que eu não seja um deles.
No fundo, os cientistas preocupam-se apenas com suas conquistas. Concentram-se em fazer alguma coisa e não param mais para pensar se devem ou não, se aquilo será ou não válido. Convenientemente, definem tais considerações como inúteis, sem sentido. Se não agirem, alguém passará na frente. Então tentam chegar primeiro, seja aonde for. Esse é o jogo da ciência. Daí que a descoberta científica mais pura é um ato agressivo, violento. Exige grandes equipamentos, e literalmente muda o mundo depois. Os aceleradores de partículas agridem a Terra e deixam restos radioativos. Os astronautas jogam lixo na Lua. Há sempre uma prova de que os cientistas passaram por ali, fazendo suas descobertas. A descoberta científica sempre agride o mundo natural.

Avaliação:

(unânime)




Serviço
Título Original:
Jurassic Park
Editora: L&PM
Ano: 2009
Número de Páginas: 488

2 comentários :

  1. Oie
    Esse post ficou perfeito, adorei saber o ponto de vista de vocês.
    Eu adoro o filme e estou curiosa para ler o livro.

    Super beijo
    http://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com.br

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    Respostas
    1. Que bom que gostou da ideia e olha recomendadíssimo o livro!

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