12 agosto 2015

{Resenha} Iluminadas - Lauren Beukes


"O futuro não é tão ruidoso quanto a guerra, mas é implacável com sua própria e terrível manifestação de fúria."


Sobre o que é: No ano de 1931, em Chicago, um psicopata chamado Harper Curtis encontra acidentalmente uma casa que por fora parece abandonada, mas por dentro é completamente diferente, com cômodos bem decorados e um segredo. A Casa tem a propriedade de viajar no tempo, levando-o para qualquer ano entre o início da década de 30 e o início dos anos 90. Ela também desperta nele um impulso incontrolável de matar um grupo de garotas nascidas em gerações distintas, cuja escolha foi determinada por serem jovens “iluminadas”, cheias de potencial.

Enquanto Harper se desloca pelo tempo em sua missão, Kirby Mazrachi, uma de suas vítimas, sobrevive ao ataque e fica obcecada por encontra-lo. Para isso conta com a ajuda de Dan Velasquez, o repórter que cobriu seu caso no passado e que está apaixonado por ela.


O que esperar: O livro é narrado em capítulos curtos e não lineares que têm como título o nome do personagem, mais o ano em que a ação acontece, já que o assassino se desloca entre o passado e o futuro repetidamente. A maioria é escrito no ponto de vista de Harper, o assassino, ou Kirby, a garota sobrevivente que agora é estudante de jornalismo. Ela consegue um estágio em um jornal com o objetivo de trabalhar com Dan, o repórter responsável pela seção de esportes, mas que anos antes escrevia sobre homicídios e cobriu o caso de seu quase assassinato. A princípio Dan se recusa a colaborar com a investigação de Kirby, mas acaba cedendo porque começa a se apaixonar por ela. 

Além dos três personagens principais, há capítulos focados em personagens secundários, inclusive nas outras garotas, vítimas de Harper, contando um pouco da vida delas até o momento de seus assassinatos. Esperem por algumas descrições gráficas de violência na primeira metade do livro.


Opinião: Esse livro foi perigoso para minha integridade física. Terminei com o início de uma dor de cabeça de tanto revirar os olhos e alguns cabelos arrancados por motivo de “como um livro sobre um serial killer viajante do tempo pode ser tão ruim?” 

Harper Curtis é um vagabundo psicopata que encontra a tal casa misteriosa totalmente por acaso e de repente se vê com um objetivo na vida: matar as garotas iluminadas. O motivo é alguma coisa entre “a Casa acha que é uma boa ideia” e “porque é divertido” e as vítimas já estão pré-determinadas, seus nomes escritos em um cômodo da Casa que ele visita repetidamente. Harper viaja no tempo e as encontra quando crianças, como uma espécie de reconhecimento, e volta para mata-las quando já são adultas, seguindo um ritual brutal e deixando um objeto que pertenceu a uma vítima anterior. Mais de uma vez o assassino diz que as garotas literalmente brilham e esse é o motivo de precisar mata-las. Há inclusive uma cena em que ele persegue uma das garotas e consegue encontra-la porque ela está literalmente brilhando aos olhos dele, o que é engraçado porque em outra situação semelhante a autora parece esquecer esse detalhe completamente... 

A falta de explicação para quase tudo envolvendo a Casa e as garotas não teria sido tão importante se a narrativa fosse cativante, mas a não linearidade da mesma acaba prejudicando a trama por antecipar acontecimentos de uma forma que acaba com toda a tensão quando eles são de fato narrados em detalhes. Harper tampouco ajuda. Ele dá a impressão de ser apenas um maníaco que gosta de sair por ai esfaqueando pessoas. Nunca se mostra como um assassino inteligente e ameaçador. O único motivo de conseguir fazer tanto estrago é que conta sempre com o elemento surpresa. 

Quanto a Kirby, ela consegue ser extremamente irritante na primeira metade do livro, com seus intermináveis diálogos sarcásticos que foram os responsáveis por meus olhos quase não voltarem a posição original. Mais tarde, quando sua pesquisa começa a render alguns frutos isso melhora, mas a essa altura não consegui mais criar nenhum tipo de conexão com ela. Não me preocupei em nenhum momento se ela conseguiria encontrar Harper, se sobreviveria ao encontro ou qual seria seu destino. Continuei lendo simplesmente para saber o que ia acontecer. 

Dan consegue ser mais agradável e eu teria gostado se ele tivesse tido mais importância na história. Vamos ignorar a tentativa “flopada” de inserir um romance entre ele e Kirby. Só posso imaginar que foi a única maneira que a autora encontrou para justificar um homem com sua idade e experiência topar ajuda-la com um projeto que não tinha nada a ver com o trabalho deles e ainda parecia prejudica-la psicologicamente. Se não foi isso, simplesmente não funcionou. 

Os capítulos centrados nas vítimas fatais de Harper foram os únicos no livro que tiveram algum apelo emocional. Eles apresentam as mulheres de forma razoavelmente aprofundada até o momento de seu assassinato. Ao mesmo tempo, tive a sensação de que, ao invés de se inserirem naturalmente no contexto da trama, a autora as usou propositadamente para representar minorias, algo que sempre me incomoda quando não parece servir a nenhum propósito. Não sei se o livro foi escrito para fazer algum tipo de analogia à opressão sofrida pelas mulheres através das décadas, como vi mais de uma pessoa sugerir, mas, honestamente, isso nunca me passou pela cabeça enquanto lia. Tudo que consegui captar foi uma história que ficou muito aquém de seu potencial. 

Para encerrar, tenho que fazer justiça ao esforço da autora para justificar as consequências dos atos de Harper no loop temporal no qual ele estava vivendo através da Casa. Não tenho certeza se ela conseguiu explicar tudo satisfatoriamente – fica um pouco confuso de acompanhar em que ano exatamente está acontecendo o que depois de um tempo –, mas foi um acerto.



Avaliação:



Serviço 
Título Original: The Shining Girls
Editora: Intrínseca
Ano: 2014
Número de Páginas: 320

4 comentários :

  1. Pela sua resenha, eu me pergunto se você terminou de ler só por que a casa mandou. xD E um aviso que pode soar como spoiler, mas é um grande aviso. Essa autora sanguinária matou o cachorro!!!! ¬¬

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    1. Eu terminei porque queria ver a superexplicação no final que ia fazer tudo valer a pena. u_u
      E, sim, odeio quando matam o cachorro. T_T

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  2. Na hora que eu li psicopata e viaja no tempo eu pensei "esse deve ser o melhor livro do mundo", que pena que a autora não soube aproveitar uma premissa tão boa :/
    Beijoos,
    Sétima Onda Literária

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    Respostas
    1. Haha, eu pensei a mesma coisa! Foi pena mesmo, mas muita gente gostou. De repente só não funcionou para mim mesmo. :/

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