24 outubro 2015

{Resenha em Dupla} As Lembranças de Alice - Liane Moriarty

Alice tem 29 anos, é apaixonada pelo marido, Nick, e está grávida de 14 semanas do seu primeiro filho. Ao menos é isso tudo o que ela se lembra. Imagine sua surpresa ao ser informada – quando acorda após um incidente em que bateu a cabeça – de que é mãe de três crianças, está com relações cortadas com a sua irmã e passa por um divórcio conturbado, às vésperas de completar 40 anos! A queda apagou a memória da última década de Alice. Agora ela terá que construir seu futuro apagando os erros de um passado que sequer lembra de ter existido. Poderá uma amnésia se tornar o melhor acontecimento em sua vida, nos últimos dez anos? - (Skoob)
VISÃO GERAL

Anita: Devo já esclarecer minha visão parcial sobre esta autora. Ela já virou uma de minhas favoritas e eu só li dois livros dela; como pode ser isso? E essa história é até mais amável que a primeira que li (Pequenas Grandes Mentiras). A Alice é mãe de três diab– filhos e está no meio de um divórcio porque seu casamento se desgastou e a convivência com o marido se tornou impossível. Daí ela perde dez anos de memória e acha que ainda está recém-casada, prestes a ter seu primeiro filho. Que acaba sendo uma filha. Isso não só muda seu relacionamento com a mãe, a irmã e a vizinhança, mas tudo está o oposto de como ela lembrava ser e o que a Alice mais quer é consertar tudo e pôr sua vida de volta como era dez anos antes, o que inclui recuperar o marido.

Elza: Além disso, tem o drama da irmã da Alice, que está há anos tentando ter um filho, mas todas as tentativas acabam em aborto espontâneo. Isso acaba provocando alguns conflitos entre as duas irmãs, já que Alice acha que ela deve desistir e a irmã sente como se ela não se importasse mais com o drama que está vivendo. Alice também tem que lidar com o fantasma de Gina, em quem todo mundo fala como se tivesse sido sua melhor amiga, mas de cuja existência ela não lembra, menos ainda de por que ela não está mais em sua vida. 

Anita: E o merengue gigante que ela se encarregou de cozinhar para a escola dos filhos. Além do fato de ela estar namorando o diretor de lá. 

Elza: Não esqueçamos que a mãe dela casou com o pai do marido dela. Como se acordar e descobrir que tem três filhos não fosse chocante o suficiente... Na verdade, até que a Alice lidou bem com isso. Eu teria, sei lá, fugido para o México. 

Anita: Acho que isso nem seria legalmente possível no Brasil, rs. (Edit: talvez seja possível, sim).

Elza: São crianças desconhecidas! E a mais velha... Qual o problema da Liane com garotas adolescentes? Ela sempre dá um jeito de inserir uma tocando o terror... Espera. Sempre esqueço que a menina desse livro só tem nove anos. Vamos aos pontos positivos logo, assim chegamos mais rápido a parte onde eu reclamo disso.


PONTOS POSITIVOS

Anita: Quase mencionei isso no início, mas o estilo dessa autora é maravilhoso! Ela expõe temas sérios de forma não exatamente descontraída, mas simplesmente natural. Não é uma comédia enquanto você lê – mas você ainda ri bastante. Por causa dessa naturalidade, é possível se emocionar e se envolver com a história, mesmo quando as situações são levadas a extremos. Outro ponto que eu queria muito destacar se relaciona a esse dom. A ideia de você esquecer dez anos de sua vida, da forma como a autora expôs, foi assustadora e me fez refletir muito sobre o quanto podemos mudar nesse período de tempo a ponto de nem nos reconhecermos. De fato, a Alice pareceu ir de um extremo a outro e ainda assim eu consegui me ver na pele dela; é crível que a passagem desses anos e os tantos acontecimentos em sua vida possam causar essa virada de personalidade, o que torna tudo bem mais assustador. 

Elza: O ponto positivo mais forte de todos os livros dessa autora é realmente seu estilo de narrativa. O texto dela é inteligente e ela consegue usar sarcasmo sem que seus personagens soem tolos ou agressivos. Por falar nos personagens, as personalidades deles também são bem construídas. As Lembranças de Alice tem um tema que poderia ter sido tratado como um grande drama, mas a autora foi muito feliz em fazer exatamente o contrário. Alice soa como uma viajante do tempo, curiosa sobre o futuro. Ela nunca surta por causa da situação que está vivendo. Ao invés disso, se concentra em se esforçar para consertar o que acha estar errado em sua vida.

Anita: E as situações malucas que ela expõe, em especial quando trata dos deveres de mãe, são sempre imperdíveis, né? Apesar de Pequenas Grandes Mentiras ter explorado isso bem, Em As Lembranças de Alice pareceu muito mais palpável e decidi que nunca quero ser mãe australiana.

Elza: Chorem homens australianos, Anita acaba de tirar vocês da jogada. Já que você falou do lado engraçado – porque Alice tentando se encaixar na própria vida sem as memórias dos últimos dez anos rendeu muito, realmente. Por outro lado, o que me chamou atenção em especial nesse livro foi o drama da irmã dela, Elizabeth, que há anos tenta engravidar com tratamentos de fertilização, sempre sem sucesso. A história dela é contada através de cartas da mesma para o terapeuta e essas cartas conseguem ser engraçadas e dramáticas ao mesmo tempo, o que acho algo difícil de se conseguir. Ponto para a autora. 

Anita: Eu conheço uma pessoa que está passando por problemas para ter filho neste momento e confesso que ler a parte da Elizabeth me lembrou tanto do que essa pessoa me relata que minha ideia sobre o assunto mudou. Estava até contando sobre o livro para a pessoa, mas acho que não seria bom ela ler. Eu não ia querer ser mãe depois de ler a parte da Alice, rs. 

Elza: Não sei se a Alice conta como modelo de mãe moderna. Alguém realmente se mete em tantas atividades por livre e espontânea vontade? A vida da Alice me deixou tonta só de ler. E quem negócio foi aquele de recorde mundial de torta de merengue? Me pergunto se a Liane escreve baseado em experiência própria ou se ela só imagina as mães mais assustadoras possíveis. 

Anita: Pela minha sanidade, preciso acreditar que é tudo ficção.

Elza: Para mim, foi isso. Os pontos positivos são basicamente a forma de narrativa e os bons personagens. Por mais louco que seja um plot, o que faz um bom livro é a capacidade do autor de convencer o leitor, e a Liane consegue. Mesmo que eu ache que as mães que ela descreve são Terminators disfarçados. Ninguém tem tanta energia assim! Ainda mais com três filhos. *estremece* 

Anita: Muito do livro te faz comparar a antiga Alice e a que virou mãe monstro entre outras err “qualidades”, mas gostei da conclusão da autora sobre a questão. Não digo o final em si, retomo esse detalhe infeliz no momento certo. Todavia, a conclusão sobre qual Alice a Alice deveria ser foi acertada, na minha opinião. Não revelo qual, é claro, rs. Trouxe-me paz de espírito ou algo assim.


PONTOS NEGATIVOS

Elza: Vou começar falando que não gostei da caracterização da filha mais velha da Alice. A menina de nove anos soava tão adolescente... Será que é algo da geração presente e estou confundindo com ponto negativo? Acho que não falo com uma menina de nove anos desde que eu mesma tinha essa idade. Mas comparando com as crianças de outros livros da Liane, O Segredo do Meu Marido, por exemplo, achei que a Madison deixou a desejar. 

Anita: Pois é, ela soava igual à filha da Madeline em Pequenas Grandes Mentiras algumas vezes, por isso eu sempre a imaginei igual. Também esquecia sua idade. Mas o grande negativo para mim foi o fim. Ou melhor, o epílogo. O que foi aquilo? 

Elza: Ah, é... O epílogo... Foi meio como o epílogo de Harry Potter, mas em menor proporção. Na verdade, foi meio...


Anita: Não que eu tivesse apreciado tanto assim o final antes do epílogo, mas foi engraçado como os dois são finais diferentes, como se a autora ou tivesse mudado de ideia ou estivesse dizendo: "brincadeirinha!". Só que o trote mesmo foi o epílogo. E esse foi o único negativo em que pensei, rs.

Elza: Agora que você falou... Não é que o livro teve dois finais mesmo? E meio que um foi o contrário do outro! Como não percebi esse detalhe nada sutil antes? O engraçado é que li o final e fiquei "não, não, não, não era assim que devia terminar!!!", ai veio o epílogo com coisas que eu até teria gostado antes, mas que deixaram um sabor de "era tarde demais para isso funcionar, wtf". Eu teria gostado mais de um final aberto. O que é algo raro, porque geralmente odeio finais abertos.

Anita: Idem, mas eu aguentava o final nº 1. Provavelmente estaria criticando, mas aguentava. O 2 (o epílogo) ficou tão piada que até esqueço que existiu. Então, sim. Um final aberto e mais curto. Além de tudo, um epílogo fez o livro dar a sensação de interminável. 

Elza: Isso é algo que a Liane gosta de fazer. Explorar todas as possibilidades. Em O Segredo do Meu Marido tinha passagens do tipo "se fulana não tivesse morrido, ela teria conhecido fulano, dois meses depois os dois teriam se casado e então..." Acho que a autora não gosta de deixar as coisas à imaginação. Me pergunto se é uma conspiração para extinguir os escritores de fanfics. Ainda existem os Universo Alternativos, Liane. Você não vencerá!


ÚLTIMOS COMENTÁRIOS

Anita: Liane Moriarty conquistou um lugar entre meus autores favoritos. As Lembranças de Alice conseguiu lidar com temas sérios e ainda manter um tom leve. Mais que isso, usou um clichê de amnésia e logrou me fazer pensar por toda a leitura a temática do quanto somos capazes de mudar em meros dez anos. É livro rápido de ler porque é impossível parar até descobrir se a Alice conseguiu consertar sua vida. 

Elza: Mesmo querendo dar umas tapas na Alice de quarenta anos, eu ainda adorei cada minuto desse livro. Ok, menos o final. Mas, hello, tem dois finais! É o dobro do que alguns livros podem dizer de si mesmos. Recomendadíssimo.


Avaliação


Título Original: What Alice Forgot 
Editora: LeYa 
Ano: 2013 
Número de Páginas: 376

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