18 outubro 2015

{Resenha} Sonhos Partidos - M. O. Walsh

Título Original: My Sunshine Away
Editora: Intrínseca
Ano: 2015
Número de Páginas: 256

"A essa altura, sua filha Lindy se encontrava encolhida na cama com uma concussão. 

Uma cama que, naquela manhã, fora de uma criança. 


Agora preciso lhe contar que eu era um dos suspeitos. 


Preste atenção. 


Deixa eu te explicar."


Resumo: Uma narrativa sobre os mais universais dos sentimentos e sobre como a memória pode criar e preencher as lacunas.

Baton Rouge, capital do estado da Louisiana, nos Estados Unidos, é uma cidade conhecida por seus churrascos no jardim, tardes quentes de verão, barris de cerveja gelada e muitos fãs de futebol americano. Mas no verão de 1989, quando Lindy Simpson, uma das garotas mais bonitas do bairro e estrela das pistas de corrida, é estuprada perto de casa, fica claro que os subúrbios bucólicos de Baton Rouge também têm um lado obscuro.
Para uma vizinhança tão pequena, os suspeitos do crime são muitos. Entre eles o narrador da história, um adolescente obcecado por Lindy que mora na casa em frente à da garota. E é por meio de suas lembranças que somos levados a entender como términos de relacionamentos, culpa e amor podem transformar a vida de maneiras irreversíveis.
Combinando o encantamento da infância com a história de um crime violento, em uma prosa perturbadoramente bela, M. O. Walsh analisa os momentos do passado que afetam de forma mais profunda a vida adulta. Uma estreia excepcional que combina suspense com reflexões filosóficas sobre memória, humanidade e verdade.
- Skoob

Sonhos Partidos é um relato com misto de exame de consciência, confissão e nostalgia sobre as repercussões do estupro a Lindy Simpson, quando ela ainda tinha catorze anos, o qual nunca foi solucionado. O narrador é um dos admiradores e amigo de infância da menina, ele é considerado suspeito de a ter atacado em uma tarde como desdobramento do que interpretado como sua obsessão.

Narrado em primeira pessoa de um futuro distante, mas nada detalhado — a cadeia? Uma ala psiquiátrica? O casamento dele com Lindy? Um funeral?, essas perguntas me voltavam sempre que se mencionava o presente do narrador —, a viagem leva um tom confessional desde as brincadeiras de criança até os muitos anos pela adolescência que levaram Lindy, o personagem principal e toda aquela vizinhança para assimilar o crime.

Confesso haver lido esperando um predomínio do mistério e até algo policial. Não se enganem, certo que não sou um gênio de dedução, longe disso, mas eu realmente só soube mesmo quem era o culpado no final. Minhas teorias circularam todos os personagens a cada novo fato nas investigações, desde absurdas a simplistas. Contudo, você não tem provas para juntar, tudo virava um jogo de apontar dedos com base na intuição e nunca ser contestado até surgir-lhe alguma intuição nova, algum suspeito novo.

Na verdade, este é um drama sobre a passagem da infância e da adolescência, um drama como o título próprio sugere (não daqueles pesados, devo acrescentar). Junto ao drama, há sim um mistério, que não passa de estopim. Como drama, o livro é envolvente. Não direi inédito, acho que meus pontos deduzidos foram sobretudo porque não reconheci nada de novo ali. O autor segue bem a cartilha, mas não há muito que saia dela, negativa ou positivamente.

A narração te prende, você quer saber não somente quem atacou a Lindy, você quer saber a participação do narrador e seus motivos, você quer saber se a Lindy sobreviveu ao trauma — porque a vida dela e da família foi duramente afetada, como nos é mostrado do início — e se o narrador sobreviverá àquele mergulho em sua consciência. Confesso que meu gosto por romance também estava muito interessada em saber se ele chegou a realizar toda aquela paixão eterna por Lindy — um desejo que foi se tornando secundário e terciário e quase nulo enquanto se demonstrava a profundidade do buraco cavado por ambos os personagens.

Outro ponto interessante é o local escolhido. O narrador descrevia com tal nostalgia e quase amor que até eu fiquei curiosa com Baton Rouge. E essa técnica me fez pensar também com saudades do meu lugar de infância, das brincadeiras na rua, da minha turminha. Como veem, trata-se de um livro bonito, como eu raramente vejo autores homens conseguirem montar. Poderia ter sido mais curto, poderia ter sido mais direto ao ponto, mas devo dizer que valeu essa viagem.

O final foi satisfatório também. Apesar dos medos que tive de o mistério do crime nem ser revelado, nós descobrimos quem atacou Lindy, o que houve a ela e como o autor ficou depois de todas as turbulências que o evento causou à sua adolescência. Não direi que é meu final preferido de livros, mas posso dizer que foi mais que um "gostei". Talvez tenha sido um pouco meloso de eu ter me contorcido e pensado: "é mesmo um homem passando essa manteiga toda", rs. Concomitantemente, a ideia final foi bonita a ponto de compensar o açúcar em excesso.

Avaliação:

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