13 setembro 2015

{Resenha em Dupla] Novembro de 63 - Stephen King

"Você pode mudar a história, Jake. Entende isso? John Kennedy pode viver."

SOBRE O QUE É

Resumo oficial: A vida pode mudar num instante, e dar uma guinada extraordinária. É o que acontece com Jake Epping, um professor de inglês de uma cidade do Maine. Enquanto corrigia as redações dos seus alunos do supletivo, Jake se depara com um texto brutal e fascinante, escrito pelo faxineiro Harry Dunning. Cinquenta anos atrás, Harry sobreviveu à noite em que seu pai massacrou toda a família com uma marreta. Jake fica em choque... mas um segredo ainda mais bizarro surge quando Al, dono da lanchonete da cidade, recruta Jake para assumir a missão que se tornou sua obsessão: deter o assassinato de John Kennedy. Al mostra a Jake como isso pode ser possível: entrando por um portal na despensa da lanchonete, assim chegando ao ano de 1958, o tempo de Eisenhower e Elvis, carrões vermelhos, meias soquete e fumaça de cigarro. Após interferir no massacre da família Dunning, Jake inicia uma nova vida na calorosa cidadezinha de Jodie, no Texas. Mas todas as curvas dessa estrada levam ao solitário e problemático Lee Harvey Oswald. O curso da história está prestes a ser desviado... com consequências imprevisíveis. – Skoob 

Elza: Jake não tinha nada melhor para fazer da vida, então resolveu voltar no tempo, salvar John Kennedy e ver no que daria. 


VISÃO GERAL

Anita: Esse foi meu primeiro livro do Stephen King. Ele é narrado em primeira pessoa, no ponto de vista do Jake, um professor de inglês que, de repente, se encontra com a missão de mudar o mundo, para isso, salvando o John Kennedy de ser assassinado em 1963. Tem vários poréns, claro. Nunca ficou comprovado que o assassino acusado era o real perpetrador. Se tiver sido, não se sabe se ele estava sozinho. Não se sabe nem mesmo se a ideia foi mesmo dele. E por que isso é importante? O Jake tem como voltar no tempo, mas não pode escolher para quando. O portal que ele utiliza sempre o leva para o mesmo lugar e momento em 1958. Se o Oswald, suposto culpado, fosse mesmo o assassino, mas fosse a mando de alguém, matá-lo em 58 apenas faria outra pessoa tomar seu posto. Assim, ele precisa ir para 58, esperar até 63 enquanto estuda se o Oswald estava sozinho, e impedi-lo apenas quando tivesse certeza de que Kennedy se salvaria com isso. O último porém é que o passado parece conspirar contra quem o tenta modificar, o que pode ir de uma dor de cabeça forte que te impede até de enxergar direito, a um pneu estourando no meio da estrada, ou até um acidente de ônibus. Enquanto espera, ele acaba conhecendo uma bibliotecária e se apaixona.

Elza: Faz um tempo que eu li esse livro. Um ou dois anos, então meio que cai aqui de paraquedas. Vamos ver do que me lembro... Jake conhece um cara em uma lanchonete e eles meio que viram amigos. E por trás da lanchonete tem essa passagem para certo dia, certa hora específica, precisamente no ano de 1958. Cada vez que alguém vai até lá e modifica alguma coisa, o futuro muda de alguma forma, mas se a pessoa resolver ir até lá novamente, é como fazer um reset, e todas as mudanças são desfeitas. O dono da lanchonete, Al, usa a passagem para comprar mantimentos a preço de banana, até um dia começar a pensar no que mais poderia fazer com esse portal no tempo. Ele é o primeiro a tentar o tal plano de salvar Kennedy, mas é obrigado a voltar antes de ter sucesso. Resolve então, compartilhar a ideia com Jake. A passagem está com os dias contados, porque a lanchonete será demolida em breve, então, se isso for mesmo ser feito, terá que ser feito logo.

Anita: O que nem faz muita diferença, porque só se passam dois minutos no presente, não importa quantos anos ele permaneça no passado. 

Elza: Seria perfeito se ele não envelhecesse normalmente. Imagina só... 

Anita: Pois é, o vilão em grande parte do livro é mais o envelhecimento que o portal estar com os dias contados. É até um alento que pessoas não vão ficar voltando toda hora para comprar a mesma carne e vendendo a preço de banana... *leia o livro para entender, mas ainda acho toda essa ideia assustadora* 

Elza: E o Al nunca pensou em, sei lá, ficar rico com apostas, comprar uns diamantes, depois voltar para o presente e revendê-los... *suspiro* Tudo bem, salvar o Kennedy... Vamos falar dos pontos positivos.


PONTOS POSITIVOS

Anita: É bem óbvio, mas foi uma pesquisa imensa a do King. Ele não se focou na história do Kennedy. O Jake acaba seguindo o Oswald, o suposto assassino, para descobrir sobre suas intenções. E o Oswald é um personagem tão real quanto o Kennedy, mas provavelmente muito menos documentado. O King conseguiu combinar os fatos reais com o desenvolvimento de um personagem, porque o Oswald virou parte de toda aquela história tanto quanto o Jake e qualquer outra criação do autor. Não senti que o King tenha tentado fugir de encarar isso, como eu faria por medo de acabar falando algo que repercutiria mal. 

Elza: Vou ser sincera: não sei nada sobre Dallas. Nem sobre como a cidade é hoje em dia, muito menos como era na década de 1960– 

Anita: Interrompendo... mas também não sei. Ou não sabia até o King, rs. 

Elza: O que eu sei é que a caracterização me convenceu. É sempre um prazer quando um autor realmente se esforça para criar um background convincente. King nunca decepciona nesse quesito. 

Anita: A ideia, claro, é sempre fascinante. Eu achava que este livro era mais antigo do que realmente é; afinal, parece que todo mundo quer fazer a sua versão de viagem no tempo. Fiquei surpresa ao notar que a primeira edição é apenas de 2011. Não obstante esse detalhe, eu me interessei bem pelo dispositivo que o King criou. A ideia de um portal que vai sempre para o mesmo ponto. Cada vez que você passa por ele, você desfaz todas as modificações e retorna àquele mesmo momento. Quanto mais eu lia cada detalhe da versão King de viagem ao tempo, mais arrepiada eu ficava, como estava mencionando mais acima. Aplausos pela ideia. 

Elza: Você precisa ler mais livros do King! Viagem no tempo não é exatamente novidade no trabalho dele, embora 1963 não pareça estar diretamente conectado a quaisquer de seus outros livros (incluindo a Torre) que mencionem o tema. Lembro-me de passar o livro inteiro esperando alguma conexão óbvia pular na minha cara... (Estou ignorando A Coisa por não conter o tema mencionado). Enfim, minha razão para ler esse livro foi só pelo autor mesmo. Eu leria a lista de supermercado do King se ele resolvesse publica-la.

Anita: Apreciei muito o storytelling do King, para falar a verdade. Ele tem um jeito de narrar que te envolve bastante, não importa para onde ele estivesse me levando. Tem muito livro que leio pensando no final, se ele vai salvar as estrelas-corujas ou se vai cometer um crime ambiental e assassinar todas. Neste caso, não importava como ele quisesse terminar. O que foi bom, considerando as em torno de 800 páginas que foi esta viagem. 

Elza: Acho que vou ficar sentada enquanto você fala do livro, porque sou suspeita para comentar qualquer coisa desse autor. Ele é meu autor favorito! Eu não ne lembro de absolutamente nada que não tenha gostado. Pontos positivos: tudo.

Anita: O último ponto positivo que eu queria ressaltar é a noção de Passado como personagem/rival. Embora, desde a conversa inicial com o amigo dele, o Jake soubesse que o Passado – e escrevo em maiúscula propositadamente – iria tentar impedir as modificações proporcionalmente a seus efeitos, nós e ele subestimamos seu peso como personagem essencial do livro. Era tão divertido ouvir todas as coincidências que acontecia e experimentar enquanto o Passado armava para que Jake não conseguisse cumprir com seus planos. O efeito lembra muito o da Morte no filme Premonição, mas aqui o Passado não é vilão definitivo e também apresenta algumas surpresas para o Jake. Por exemplo, a principal lanchonete de uma das cidades onde ele mais passa seu tempo também é de uma pessoa chamada Al, como seu amigo que o enviou ali... 

Elza: Mas e a Sadie? Você não vai falar nela? 

Anita: Ela foi engraçada no início, eu ri bastante da forma como se conheceram. 

Elza: Foi cruel eles terem se conhecido! Quer dizer, lá está o Jake sem vida, sem nada para fazer além de, sei lá, voltar ao passado e salvar o Kennedy? Dai, irônicamente, ele encontra uma vida no passado. Mas ele tem que salvar o Kennedy! E sabe como tinha o próprio tempo, sem mencionar os mafiosos (longa história) tentando ferrar com ele... E ele nem sabia se os mafiosos eram culpa do tempo. E no meio de tudo isso, a Sadie! Mais um pouco e saio correndo para reler. 

Anita: Acho que a Elza já deixou claro como o livro é recheado de emoções, inclusive para aqueles que gostam de romance. 

Elza: Esqueça o romance. É o drama da situação que é legal. E, claro, a Sadie tem seus próprios problemas para lidar... Para um cara sem vida, o Jake acabou com as mãos cheias.


PONTOS NEGATIVOS

Anita: Minha maior crítica é: não me importo com o quanto a história ficou longa, porque foi divertida de ler, mas as cenas sobre o Oswald foram o cúmulo do tédio. Foram bem pesquisadas, pareceram reais. Podia jurar que o King voltou ao tempo e virou um personal stalker da família Oswald, mas não podia ter sido um pouco mais interessante? As melhores partes do livro são as em que ele não está. 

Elza: Hm... O gato do Jake apareceu pouco?

Anita: Ei, essa era uma reclamação minha! Qual foi a serventia daquele gato, afinal? 

Elza: Ser fofo? 

Anita: Mas ele nem isso fez! Só me deixou preocupada com o que ia acontecer se o Jake ficasse indefinidamente no passado. 

Elza: Ele é um gato. Todos os gatos são fofos.

Anita: Retomando as críticas: para uma ideia tão divertida como a de um portal te levando ao mesmo ponto e desfazendo modificações, o King parece ter se entediado rápido com a ideia. O Jake é um professor que volta ao passado para matar Kennedy e enquanto isso tenta escrever dois livros. Larga-os na metade e vira professor. Foi frustrante ver que ele nem mesmo testou muito as possibilidades daquela passagem. Ele podia trazer roupas e dinheiro do passado. Ele podia até mesmo trazer dentro de si o que ingerisse por lá. E seres vivos? Al dá a entender que havia limites e regras, mas o King não chega a dizê-los. Confesso que essa foi a maior decepção. Ou, e relacionada, foi não sabermos bem o efeito final do Jake na vida das pessoas com quem ele se relacionou exceto pela viagem teste que ele faz. Na viagem definitiva, seria mais divertido ele ter acesso a algum livro do futuro ou coisa parecida em que visse que o aquele estudante que ele incentivou virar ator havia se tornado famoso, ou algo parecido. Fiquei também na vontade com isso. Ele se empenha pelas modificações e nem temos uma prévia a não ser muito tempo depois, perto do livro, quando ele volta definitivamente. Ao final, o King mostra o macro do que Jake faz, mas não o micro; não sabemos bem das pessoas em si. 

Elza: Eu não sei o que dizer, porque não acho que absolutamente faria sentido o Jake ter acesso ao futuro das pessoas com quem se relacionou, levando em conta... SPOILERS. (Droga!) Não posso falar muito, mas não acho que isso tenha sido importante. O King não se cansou da ideia, isso só não caberia no que ele planejou para o final. 

Anita: Por isso sugeri um artefato em tempo real, um livro de esportes com jogadores importantes, uma revista de entretenimento com grandes nomes do cinema... seria divertido em vez de um pouco vazio esse tempo passado por lá naquela escola. 

Elza: Isso é frustrante. Continuo dizendo que não faria sentido pela forma como ele explicou a viagem no tempo no livro, mas para explicar melhor eu teria que contar o final. 

Anita: Então ele devia explicar diferente ou não perder tempo com algo despropositado, rs. Foi meio triste gastar 800 páginas para tão pouco resultado e um resultado bem preguiçoso. É minha última crítica. 

Elza: Vamos concordar em discordar então. E discordar epicamente. Achei o resultado excelente. Na verdade, foi exatamente o que eu esperava de um livro do King. Ele adora finais que remetem a algo parecido com um episódio de Além da Imaginação – o final de Sob a Redoma foi a mesma coisa. Ou ainda: finais que não são tão importantes quanto a jornada em si. 

Anita: Também pensei algo assim, rs.


ÚLTIMOS COMENTÁRIOS

Elza: Como a maioria dos livros mais recentes do King, 1963 não é uma historia de horror. É um drama de ficção científica, com boas doses da característica tensão que o autor sempre cobre seus enredos. De horror, algumas pinceladas apenas. Recomendo para quem sempre quis ler um livro do Stephen King, mas não gosto do gênero no qual ele se consagrou. E para fãs do autor é, obviamente, imperdível. 

Anita: Acho desanimador começar pelo livro mais consagrado de um escritor e, por isso, desisti de fazer minha estreia com O Iluminado. Não me arrependo mesmo. Apesar de grosso, ou principalmente porque é tão longo, este livro foi uma ótima companhia da qual não consegui largar até saber tudo. É óbvio que recomendo. Ademais, o gênero não é específico e a leitura é leve, por isso, pode agradar a um público bem amplo. Leia!


AVALIAÇÃO

Anita



Elza





Serviço
Título Original:
 11/22/63
Editora: Suma de Letras
Ano: 2013
Número de Páginas: 834

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
© Grumpy Readers - 2012. Todos os direitos reservados.
Criado por: Leila, Elza e Anita.
Tecnologia do Blogger.